terça-feira, 24 de agosto de 2010

Manifesto por uma Niterói viva e solidária

 Niterói, 16 de abril de 2010.

             "De quem é a culpa pelas mortes ocorridas nos últimos dias em decorrência das fortes chuvas que assolaram principalmente a região metropolitana do Rio de Janeiro? Talvez a resposta seja simples. E uma delas, com certeza, será “a culpa é daqueles favelados que moram lá”, outra bem provável será que a culpa é do Prefeito, os mais imbecis vão dizer que a chuva é a única responsável pelas mortes, e também que ela provocou os arrastões em Niterói, fechou suas principais vias estrangulando o trânsito, etc. É muito fácil dar Nome aos bois, mas não podemos nos esquecer que quem dá nome aos animais somos nós seres humanos. (entre eles preferem se chamarem de Vossa excelência, meritíssimo, etc.). Então já que não posso dar nome aos bois vou apelidá-los de abutres ( que os abutres não me ouçam). Porém eu só posso culpar uma pessoa por tudo o que vem ocorrendo, não resta outro culpado senão a mim mesmo, afinal quem elege os políticos brasileiros? Os marcianos? Os iraquianos? Os argentinos? Bom, eu acho que não. É muito fácil dizer que é o povo brasileiro; só que eu também sou brasileiro; nasci aqui (e provavelmente vou morrer também). Eu, brasileiro, que muitas vezes troco meu voto (e minha dignidade) por areia, cimento, asfalto, uma bela feijoada, um pagode regado a muita cerveja, ou até mesmo um carro importado ou uma casa de luxo; afinal que mal meu voto faz, é só mais um mesmo? Para que me importar com o próximo? Para que ligar pro índio Galdino ou para o João Hélio, ou o Chico Mendes e até mesmo pra Jesus Cristo. SE EU CUSPIR NO TÚMULO DELES QUEM SE IMPORTARÁ?


De que adianta ficar indignado por uma semana ou um pouco mais e depois esquecer tudo quando surgir uma bunda nova na TV ou uma vitória da seleção brasileira na copa, ou o pior uma nova tragédia? Mas porque tragédia? As pessoas não sabem que favela é lugar de risco? Risco de morte por bala “perdida”, ou até mesmo do nome favela, afinal de contas favela agora é comunidade algumas até viraram “bairro”. O mesmo ocorreu com a lepra, lembram? Virou Hanseníase. Provavelmente as bactérias ficaram mais dóceis depois que a doença mudou de nome não é? Isso deveria significar que mudar o nome fantasia de favela para comunidade ou para bairro, deveria acabar com a criminalidade ou domesticar as encostas, mas, na prática não é isso que vemos, aliás, por que sempre falo em nós? Por que sempre dividido a culpa e nunca a solução? Por que “nós” esnobamos a verdade a todo momento? Quando vejo um mendigo na rua eu procuro ignorá-lo; se ele estiver todo sujo e mal-cheiroso, então! Com a favela não é muito diferente, ou é? Todo ano tem enchente, desabamento e morte, mas dessa vez foi diferente; choveu demais; aí colocaram a culpa em quem? Na chuva, é claro. “Foi a pior chuva da História de Niterói”. Puxa vida, é mesmo?! Quantos moradores da Zona Sul de Niterói (que não moram em favela) perderam as suas vidas sob escombros de suas moradias? Você pode até imaginar que me referi a essa região, porque quero culpar a Zona Sul (os ricos), mas na verdade continuo achando que a culpa é minha, afinal, o atual gestor da minha cidade a comanda diretamente ou indiretamente desde 1989. As pessoas que morreram no bumba pagavam IPTU, logo não são “invisíveis” ao poder público, não é?

Não posso colocar a culpa nas autoridades, elas não merecem, só merece tal coisa quem é responsável e quem gasta mais com conselhos do que com vidas humanas não o pode ser. Afinal “os grandes temem mais que a morte uma espécie de governo que os force a respeitar os homens”. Eles não sabem que o petróleo é finito (mas gerando aproximadamente 7 Bilhões de reais por ano ao estado do Rio e prefeituras em royalties)? Qual o problema? Não sabem que a cidade da música1 na nossa vizinha Rio de Janeiro, é uma afronta ao juízo, ou a cidade do samba2, ou a torre de 60 metros3 que será construída aqui mesmo em Niterói no famoso caminho Nyemeier, sem mencionar o MAC, Brasília, etc.. poderiam ter salvo várias vidas humanas? Mas, afinal, quanto vale a vida de uma criança inocente? Talvez valha 100 gramas de cocaína ou uma transa com aquela modelo famosa, ou um maço de cigarros, ou uma simples pedra de CRACK, talvez as olimpíadas de 2016 ou a copa do mundo de 2014 . Alguém se deu conta que a maior crise de dengue vivida no Rio de Janeiro foi logo após o Pan do Rio? E é por essas e outras que eu sou o culpado. Afinal se os governantes estão lá e detêm o poder, fui eu que, direta ou indiretamente, os elegi e dei a eles esse poder.

Portanto se você acha que você é o culpado passe esse manifesto adiante, e quem sabe um dia você descubra que é tão ou mais culpado do que lhe parece.

1- Cidade da Música- Custo até agora (não está concluída), 518 Milhões de reais. Ou 17.266 casas populares.
2- Cidade do Samba- Custo estimado de 102 Milhões de reais. Ou 3241 casas populares.
3- Torre panorâmica de 60 metros (ficará no caminho Nyemeier)- Custo estimado de 20 Milhões de reais. OU 666 casas populares.

E olha que o governo calcula que serão necessárias 50.000 casas populares (fora das áreas de risco é claro) para se resolver o problema dos favelados no estado.

As casas calculadas acima, assim o foram, levando-se em conta um valor estimado de R$30.000  por cada casa."

Este texto é de autoria de Jose Alex Nascimento Moreira
e postado por Robin Wood.

Nenhum comentário:

Postar um comentário